A indústria Cimenteira portuguesa investiu cera de 209 Milhões de Euros, entre 2005 e 2020, em medidas de redução do impacto ambiental e em Investigação, Desenvolvimento e Inovação. Este investimento muito significativo, reflete uma atuação proativa do setor para reduzir as emissões diretas de CO2. A atuação tem vindo a incidir em quatro áreas-chave:
– substituição de combustíveis e matérias-primas convencionais por alternativos;
– eficiência energética térmica;
– substituição de clínquer e I&D em novos tipos de clínquer;
– projetos de I&D em Captura, Utilização e Armazenamento de CO2 (CCUS).
Os investimentos contribuíram para uma redução superior a 14% nas emissões específicas de CO2, por tonelada de cimento, entre 1990 e 2017.
O roteiro da Associação Europeia de Cimento para uma Economia de Baixo Carbono em 2050 apresenta uma estratégia para a redução significativa das emissões de CO2, reforçando o papel do betão – a principal aplicação do cimento – como material preferencial a utilizar na construção. As linhas de ação propostas assentam em 5 pilares: eficiência de recursos, eficiência energética, captação, armazenagem e uso do carbono, eficiência do produto e cadeia de valor a jusante. De acordo com a visão para o setor, a pegada de carbono do cimento pode ser reduzida 32% em comparação com os níveis de 1990, usando principalmente meios convencionais. Conjugados com a aplicação de novas tecnologias emergentes que funcionem como alavancas e sujeitos a políticas especificadas e pré-requisitos tecnológicos, pode prever-se uma redução potencial de até 80% de emissões.
“Actualmente, o consumo energético dos edifícios é uma das principais preocupações ambientais dado que os mesmos são responsáveis por aproximadamente 40% do consumo de energia e 35% das emissões de GEE na UE (incluindo as emissões directas e indirectas da produção de electricidade)(1). Como o edificado em betão tem um maior potencial de poupança energética face a outros materiais, o betão poderá ter um papel fundamental na concretização dos objectivos da UE por intermédio da construção de edificado com baixo consumo de energia. Também poderá contribuir significativamente para os ambiciosos objectivos europeus de redução das emissões de CO2.
Os edifícios em betão, quando comparados com o edificado construído com diferentes materiais de construção, podem alcançar consideráveis poupanças de energia durante o seu ciclo de vida devido à sua inércia térmica que garante uma temperatura interior mais estável mesmo quando no exterior ocorrem oscilações de temperatura. Este fenómeno, quando conjugado com o design inteligente de edifícios, tem um potencial elevado de redução da factura energética, sendo possível desenvolver estruturas em betão que reduzem um consumo energético médio de 200-150kWh/m2 para 50kWh/m2 ou mesmo edificios com emissões zero (2). Nos nossos dias, o betão já permite reduzir até 60% das emissões de CO2 e dos consumos energéticos durante o ciclo de vida do edificado comparativamente com o que ocorria há 20 anos.
No sector dos transportes, que é responsável por 20% das emissões de GEE na UE, o betão também pode contribuir para a redução das emissões de CO2. Os pavimentos em betão permitem ainda a redução do consumo de combustível dos veículos automóveis em geral graças ao menor atrito ao rolamento por estes apresentarem uma superfície mais lisa, mais rígida e com menos irregularidades/deformações do que os pavimentos em betuminoso. No caso dos veículos pesados, existem estudos que apontam para uma redução do consumo de combustível de cerca de 6%. A também menor necessidade de intervenção nas estradas com pavimento em betão garante um menor congestionamento do tráfego, permitindo uma poupança adicional no consumo de combustível. Adicionalmente, o betão caracteriza-se pelo elevado coefeciente de reflexão. Quando comparado com o betuminoso, o betão permite diminuir as necessidades de iluminação da via pública, bem como diminuir a temperatura em zonas de grande densidade de construção. Outro facto relevante, e não menos importante, reside nos custos a suportar durante o ciclo de vida da construção em betão que são inferiores, quando comparados com o betuminoso. Um estudo publicado pela Highway Administration of Belgium’s Walloon Region concluiu neste sentido, demonstrando que as estruturas em betão são mais vantajosas em termos de custo quando comparadas com as estruturas betuminosas.”
Luís Fernandes
Presidente da ATIC – Associação Técnica da Indústria de Cimento
in Público – Imobiliário – 09.03.2016